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quarta-feira, 3 de março de 2010

MOCHILA 197

                  MOCHILA 197

Folheto formativo mensal da Paróquia de N. Senhora da Imaculada Conceição de Martins – RN

Fevereiro de 2010



O canto litúrgico na Quaresma


 “Cantar a quaresma é, antes de tudo, cantar a dor que se sente pelo pecado do mundo, que, em todos os tempos e de tantas maneiras, crucifica os filhos de Deus e prolonga, assim, a Paixão de Cristo... É um canto de luto, um canto sem ‘glória’ e sem ‘aleluia’, um canto sem flores e sem as vestes da alegria, um canto ‘das profundezas do abismo’ em que nos colocaram nossos pecados (Sl 130); um grito penitente de quem implora e suplica: ‘Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade, e conforme a vossa misericórdia, apagai a minha iniqüidade’(Sl 51,3)”.
Vejamos, a seguir, alguns exemplos de textos pinçados do repertório quaresmal da Igreja no Brasil, buscando vinculá-los a alguns aspectos da espiritualidade quaresmal:
a) Quaresma é, antes de tudo, tempo de mudança radical de vida e de conversão do coração:
 “Mudai de vida, mudai, / convertei-vos de coração! Fazei a vontade do Pai, / Amai, servi aos irmãos. / Fazei a vontade do Pai, /
Lutai por um mundo de irmãos; / Fazei a vontade do Pai, / O chão é de todos e o pão.(...)
Ou:
“Eis o tempo de conversão, / Eis o dia da salvação: / Ao Pai voltemos, juntos andemos, / Eis o tempo de conversão!”.
b) Quaresma é tempo de reconciliação. Já na quarta-feira de cinzas, fazendo eco às palavras do apóstolo Paulo (2ª leitura), cantamos:
“Reconciliai-vos com Deus! / Em nome de Cristo rogamos. / Que não recebais em vão sua graça e seu perdão; / Eis o tempo favorável / O dia da salvação! (2cor 5, 20)”.
c) Quaresma é tempo de perdão. Cantamos a misericórdia de Deus e reforçamos, entre nós, o desejo da prática incondicional do perdão:
“Senhor, eis aqui o teu povo, / Que vem implorar teu perdão; / É grande o nosso pecado, / Porém, é maior o teu coração. / 1.Sabendo que acolheste Zaqueu, o cobrador, / E assim lhe devolveste tua paz e teu amor, / Também, nos colocamos ao lado dos que vão / Buscar no teu altar a graça do perdão”.

A pedagogia de cada domingo da quaresma
O Lecionário Dominical – embora trazendo nos dois primeiros domingos dos anos A, B e C o mesmo conteúdo evangélico (Deserto e Transfiguração de Jesus) - propõe três diferentes “itinerários” quaresmais, a saber: No ano A, os evangelhos estão intimamente relacionados com a temática do batismo (Samaritana, Cego de nascença e Ressurreição de Lázaro). No ano B, o acento recai sobre a pessoa de Jesus Cristo (Expulsão dos vendilhões, Encontro com Nicodemos, “O grão caído na terra”). Por fim, no ano C, a penitência e a conversão aparecem bem evidenciados (cf. parábolas da “Figueira estéril”, do “Filho pródigo” e o episódio da a “Mulher pecadora”).
Por razão de espaço, nossa amostra contemplará apenas alguns domingos. Restringindo ainda mais o âmbito da abordagem, concentraremos nos cantos de comunhão, uma vez que estes, na medida do possível, devem estar vinculados ao conteúdo do evangelho proclamado na celebração.
No primeiro domingo da quaresma, mergulhamos no deserto com Jesus. A exemplo do Divino Mestre devemos resistir a toda e qualquer tentação. Por isso, durante o rito da comunhão, cantamos o salmo 91(90):
“Quando invocar, eu atenderei, / Na aflição com ele estarei; / Libertarei, glorificarei, / Minha salvação eu lhe mostrarei!(...) / O Senhor mandou seus anjos / Pra teus passos vigiarem; / Eles te sustentarão / Pra teus pés não tropeçarem... / Os perigos mais temidos / Sem temor vais enfrentá-los; / Já que a mim se confiou, / cuidarei de resguardá-lo’”.
Como bons discípulos, no domingo da transfiguração (2º domingo da quaresma), devemos escutar a voz do Pai, já que esse é o seu maior desejo. E, fazendo memória do que ouvimos no evangelho, durante a comunhão, cantamos:
“Então da nuvem luminosa dizia uma voz: / ‘Este é meu Filho amado, escutem sempre o que ele diz’”.
No terceiro domingo da quaresma (ano B), depois de escutarmos o relato da expulsão dos vendilhões do Templo, cantamos durante a comunhão o salmo  84(83):
“O passarinho encontrou / agasalho pra seus pequeninos. / O teu altar, ó Senhor, / É abrigo pros teus peregrinos.
No domingo da alegria e do cego de nascença (4º domingo - ano A), cantamos durante a comunhão:
“Dizei aos cativos: “Saí!” / Aos que estão nas trevas: “Vinde à luz!” / Caminhemos para as fontes, / É o Senhor quem nos conduz!...
Chegando no 5º domingo do ano B, por exemplo, fazemos memória do que Jesus disse no evangelho deste dia:
“Se o grão de trigo não morrer, sozinho vai ficar, / mas se morrer, no chão,  dará, com tempo, muito fruto”.
No domingo de ramos, depois do canto do “Hosana ao Filho de Davi”, mergulhamos no mistério da Paixão de Cristo:
“Salve, ó Cristo obediente! / Salve, amor onipotente, / Que te entregou à cruz / E te recebeu na luz!
A intenção de se criar um repertório bíblico-litúrgico quaresmal é resgatar o verdadeiro sentido da música como parte integrante da liturgia (cf. SC112). Como parte integrante, a música, assim como os demais elementos que compõem o rito, tem a nobre função de expressar, de tornar presente e, sobretudo, levar os fiéis à vivência do mistério pascal de Cristo. A idéia de repertório está intimamente ligada à de rito.
O rito é, por natureza, repetição, memória, consenso coletivo. Por isso não podemos modificar a sua estrutura, a sua essência: o máximo que podemos fazer com o rito é adaptá-lo à cultura e ao jeito de cada povo. A função primordial do rito cristão é evocar, tornar presente, recordar a fé em Jesus Cristo. A música, enquanto rito, tem a propriedade de evocar, tornar presente este mistério.
            Um repertório bíblico-litúrgico quaresmal que permanece vivo na memória dos fiéis, além de facilitar a participação da assembléia, também resgata a dimensão de memorial - essencial para a liturgia. A ação renovadora do Espírito Santo proporcionará à mesma assembléia, a novidade na repetitividade. A pedagogia intrínseca ao ato de repetir, a cada ano, o mesmo canto, levará os fiéis a uma vivência espiritual, cada vez mais intensa, do mistério celebrado.
Vale citar aqui as palavras do cardeal de Bruxelas (Bélgica) Godfried DANNEELS sobre a importância da repetição na ação litúrgica:
As repetições são indispensáveis para que a liturgia nos prepare como uma gota d’água que cai numa pedra e que, ao longo dos séculos de história da salvação penetre na experiência como a fonte que escava os ‘canyons’. Temos necessidade de encontrar todos os anos as mesmas festas para que cada vez seja compreendida uma outra face. Todos os anos eu ouço o grito: ‘Elôi, Elôi, lama sabacthani!’ me soa de maneira diversa. Não porque a sua interpretação seja diferente, mas porque eu mudei.
O mesmo autor, em recente palestra ministrada durante a assembléia anual da Conferência dos Bispos Católicos do Canadá, sobre a Sacrosanctum Concilium, insiste em alguns pontos que vêm ao encontro daquilo que pensamos a respeito da música enquanto rito. Vejamos:
A liturgia só é compreensível em certo nível de repetição. Apenas gradualmente, as realidades profundas revelam seu pleno significado. Daí decorre o fenômeno do “ritual” da liturgia. Quem diz “ritual” diz repetição (...). Devemos estar cientes de que compreender a liturgia é muito mais que um exercício cognitivo; será necessário nela ‘penetrar’ com amor.
A liturgia necessita de tempo para revelar seu tesouro. Ela nada tem a ver com o tempo físico ou cronometrado, mas com o tempo espiritual da alma. Como a liturgia não depende do mundo da informação, mas permanece ao domínio do coração, não segue o tempo “do relógio”, mas o kairós. Várias de nossas liturgias não oferecem tempo nem espaço para se “penetrar” no evento (...). As questões sérias – como a liturgia – não podem ser apreendidas instantaneamente. Precisam de tempo, e quem diz tempo diz repetição (...). As questões mais profundas só com o tempo permitem emergir seu verdadeiro significado.

Orientações (atuais) do Magistério da Igreja sobre a música litúrgica
Na Instrução Liturgiam autenticam:
“Os cantos e os hinos litúrgicos constituem elementos de importância e eficácia particulares. Sobretudo no Domingo, o dia do Senhor, os cantos dos fiéis reunidos para a celebração da missa não são menos importantes que as orações, as leituras, a homilia, para a comunicação autêntica da mensagem da liturgia, pois fomentam o sentido da fé comum e da comunhão na caridade. A fim de estarem mais difundidas entre os fiéis, é preciso que sejam bastante estáveis, de modo a evitar a confusão entre o povo. Dentro de cinco anos a partir da publicação desta instrução, as conferências dos bispos deverão preparar a publicação de um diretório ou repertório dos textos destinados ao canto litúrgico, com a necessária ajuda das comissões nacionais ou diocesanas interessadas e de outros peritos. Esse repertório seja transmitido à Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos sacramentos para o necessário reconhecimento” (n. 108).
Na carta do Santo Padre sobre a música litúrgica:
“A música litúrgica deve, de fato, responder aos seus requisitos específicos: a plena adesão aos textos que apresenta, a consonância com o tempo e o momento litúrgico para o qual é destinada, a adequada correspondência aos gestos que o rito propõe. Os vários momentos litúrgicos exigem, de fato, uma expressão musical própria, sempre apta a fazer emergir a natureza própria de um determinado rito, ora proclamando as maravilhas de Deus, ora manifestando sentimentos de louvor, de súplica ou ainda de melancolia pela experiência da dor humana, uma experiência, porém, que a fé abre à perspectiva da esperança cristã” (n. 5b).
“É importante, de fato, que as composições musicais utilizadas nas celebrações litúrgicas correspondam aos critérios enunciados por São Pio X e sabiamente desenvolvidos, quer pelo Concílio Vaticano II quer pelo sucessivo Magistério da Igreja. Nesta perspectiva, estou persuadido de que também as Conferências episcopais hão de realizar cuidadosamente o exame dos textos destinados ao canto litúrgico, e prestar uma atenção especial à avaliação e promoção de melodias que sejam verdadeiramente aptas para o uso sacro” (n. 13b).
Na Instrução: Redemptionis Sacramentum
Embora não tratando especificamente da música litúrgica, a Instrução Redemptionis Sacramentum considera a importância da música, ao lado dos demais elementos rituais da celebração litúrgica: “É um direito da comunidade dos fiéis que, sobretudo na celebração dominical, haja uma música sacra adequada e idônea...” (n. 57).
No Estudo: “A música litúrgica no Brasil” da CNBB:
“Nas manifestações folclóricas, para cada tempo, cada festa, cada tipo de evento, a repetir-se todo ano em determinada época, o povo reserva naturalmente determinado tipo de música. Ninguém ouve música de “quadrilha junina” no carnaval, nem frevo ou samba carnavalesco na noite de São João... (...) Cada tempo, cada festa, cada evento, têm suas músicas características. Essas músicas carregam consigo poderosa eficácia simbólica. São elas que, por força desta mesma reserva, têm a virtude de criar o clima próprio de cada tempo, festa ou evento. O que não aconteceria, se fossem cantadas aleatoriamente em qualquer oportunidade. Ora, essa “sabedoria do povo” (folclore) pode nos ajudar a todos, comunidades, artistas e agentes litúrgico-musicais, a resgatar uma maior coerência, que no passado havia, quando se cantava o Canto Gregoriano, ao se repetir cada ano, em cada tempo litúrgico, em cada dia ou festa especial, os cantos próprios daquele tempo, daquele domingo, daquela solenidade” (n. 289-291).

Características fundamentais para o canto litúrgico
- A íntima conexão com a espiritualidade do tempo litúrgico (a Quaresma);
- Os textos tirados da Sagrada Escritura ou inspirados nela (cf. SC 121);
- A dimensão dialogal e orante;
- A estreita relação com o momento ritual (cf. SC 112);
- A boa qualidade (estética) da linguagem poética e melódica.

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