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sábado, 14 de julho de 2012

TEMPO DE FÉRIAS



Chega o período das férias escolares em nosso país. Muitas crianças e jovens, e também seus pais, aproveitam esse período para uma parada no meio do ano. 
Um período de descanso seja em casa ou mesmo fora da cidade, ou para lugares mais tranquilos e reconfortadores.

O excesso de obrigações e de ocupações cria uma pressão constante sobre as pessoas.

Assistimos hoje a uma liberalização das leis que afetam as horas de trabalho e suas limitações, frente a uma demanda cada vez mais frenética de produção e de consumo. Esse assunto foi aprofundado no Encontro Mundial do Papa com as famílias, em Milão, e o será de novo na Semana Nacional da Família, no próximo mês de Agosto: “A família, o trabalho e a festa”.

Isso tudo traz uma consequência no campo espiritual: um cada vez mais constante processo de secularização e desumanização dos domingos e dias santos, e também das férias.
Não há dúvida de que existe um período para o trabalho e um tempo para o descanso. O descanso não é apenas um mandamento legítimo, mas também abençoado pelas Sagradas Escrituras. Basta lembrar o sentido do Dia do Senhor semanal, do ano sabático e o tempo do jubileu.

Então, quem pode passar férias deve fazê-lo como uma fonte de crescimento, regeneração espiritual. Uma maneira de estimular a viver com alegria. Nós temos uma carência natural de descanso, de lazer e de diversão, tendo em vista sermos imersos muitas vezes numa atmosfera de fadiga constante e de preocupação diária com os afazeres laborais. Isso é típico do nosso tempo de consumismo e que, muitas vezes, descansar pode parecer deixar de ganhar (“quando passará o sábado para voltarmos a ganhar?”)

Todos conhecem as fotos do Santo Padre João Paulo II em descanso no norte da Itália, nas montanhas de Cadore, em Les Combes e no Valle D’Osta. Lá, ele fazia horas e horas de caminhada, leitura, descanso sob as árvores. Ora, sem dúvida, era um refrigério para os seus inúmeros afazeres na cidade do Vaticano. Também o Papa Bento XVI passa atualmente suas férias em Castelgandolfo, sem muitos compromissos oficiais e fazendo o que lhe agrada, que é escrever mais um volume do seu livro “Jesus de Nazaré”. Nesses dias assistiu a um concerto no Palácio Apostólico.

O valor do descanso, portanto, é ser um tempo de descanso físico, psicológico e dando mais tempo para a vida espiritual, que nos faz descansar no Senhor.

São inúmeros os benefícios de um lazer bem organizado, e dentre eles poderíamos destacar um de grande atualidade: um maior comprometimento com a consciência ambiental, seja pelo turismo no campo, seja também no Litoral. 

Assim, conhecendo melhor a natureza que nos cerca – sua beleza e exuberância – e também a grande riqueza de nossos mares e rios, podemos desenvolver um dever de zelar e cuidar de todo esse grande presente da criação divina. 

O aumento dessa consciência ecológica muda hoje a consciência do homem. O homem deve, a exemplo de São Francisco de Assis, se acostumar a ver um irmão e uma irmã em todas as coisas da criação e dizer: Louvado seja meu Senhor com todas as suas criaturas!
Os meios para se desfrutar do lazer de uma forma positiva são inúmeros. Há várias oportunidades que ajudam e contribuem para uma sadia recuperação física, e agem em benefício da sua própria saúde corporal. 

Desta forma, a participação em eventos culturais e festivos, o esporte e o turismo se tornam parte da vida cotidiana, como expressões do tempo livre (Orientações para o Ministério do Turismo – Conselho Pontifício para a pastoral dos Migrantes e Itinerantes – 29/06/2001).
Mas, é claro que na bolsa ou na sacola de praia deve estar armazenadas, também, a coerência com o Evangelho, e não apenas um estilo de vida hedonista ou consumista. É preciso, portanto, construir um lazer inteligente e vital. 

Daí que, mesmo em férias, devemos procurar a oração, a meditação pessoal e a busca dos sacramentos, especialmente da Santíssima Eucaristia. Nesses momentos de lazer podemos aproveitar os dias mais livres, sem maiores obrigações, para meditar mais e melhor a Palavra de Deus. 

A busca pelo silêncio, seja interior ou exterior, seria outro valor a ser cultivado nas férias. Na verdade, só em silêncio podemos ouvir as profundezas de nossa consciência e a voz de Deus. E as férias podem ajudar nessa busca, a redescobrir e a cultivar esta indispensável dimensão interior da existência humana.

Ou seja, tirar férias para parar, escutar, escutar a si mesmo, ou ouvir e meditar a Palavra de Deus seria uma grande bênção. Ter um tempo para si e para Deus, um tempo para o essencial, um tempo para o Espírito, um tempo para oração.
Um olhar de amor faz do tempo um não-tempo. Aí estaria um grande valor das férias.

Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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